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quarta-feira, julho 09, 2003

Me convide para a sua festa de quarta-feira com vinho barato e salgadinhos de padaria; esqueça, esqueça as vezes em que fui seu grilo de estimação vomitando pedaços rudes de verdade e me convide para sentar no sofá azul do seu apartamento pequeno sem gatos e sem samambaias e me sirva músicas na bandeja enquanto acendo o cigarro e comento qualquer coisa desagradável sobre o seu cabelo sem lavar há alguns dias ou sobre o cheiro horrível que vem da sua cozinha. Pegue a canção errada cheirando a obviedades nem um pouco contundentes e ponha pra tocar no repeat só-mais-uma-vez-eu-prometo, cante murmurando os agudos de um jeito impossível que só você é capaz e me olhe de soslaio as unhas desbotando, conferindo as suas próprias e limpando os cantos com a ponta de um canivete sempre ali, jogado sobre a mesinha de telefone.

Sente-se também mas não muito perto e faça aquela cara suja e triste, e balbucie devagar seus nacos de angústia, crus, tentando me estender a mão com alguns deles pingando auto-piedade, enquanto eu finjo que procuro manchas no teto ou teias de aranhas nos seus olhos. Deixe-se ficar ombro a ombro por minutos que se esfarelam fazendo ruído de ratos brancos em gaiolinhas, sem procurar nenhum assunto, sem tocar os joelhos, sem dançar com as mãos no ar. Finalmente lembre-se de abrir o vinho e então sirva-o em copos de requeijão ainda com um resto de rótulo agarrado, descorando azuis e verdes, adivinhando manso que eu escolherei o copo mais colorido, e sequer vou sorrir de gratidão pela sua atenção canina aos meus hábitos e manias estúpidos, de tão entediada da sua disponibilidade para me assistir nas minhas performances de criança tardia.

Troque o cd, troque a mensagem subliminar, vá ao banheiro e demore, voltando com o cabelo escorrendo água da pia e sabonete lux, você que nunca se lembra de comprar shampoo, volte devagar e descalço sentindo a areia quente no chão, toda a areia derramada entre nós, pise com cuidado usando a sola como se pisasse sobre pregos, como se dentes e girafas virassem cacos brancos debaixo de você, balance a cabeça como se tivesse uma enguia entrando pelas orelhas até respingar grande parte da água na minha cara, minha cara que te devolve a oferta com cuspe no centro da boca até uma pequena poça no chão, que você toca gentil com a testa (o chão

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