domingo, janeiro 25, 2004
Não sei. Mas me parece que se fiz foi porque deveria ser feito. Deveria ser feito para eu aprender. Não sei porque, mas me sinto bem. Muito. Minto. Sei, sei perfeitamente o porquê. Sou um doente, agora. sinto uma maior vontade de viver. Doente. Não é doença dessas que se pega ao sereno, por descuido ou falta de vitamina. Sou rapaz de família e disponho de certo amparo, daquela assepsia involuntariamente arrogante de classe média - que me permite preocupações importantes como as minhas idas regulares ao dentista, ao homeopata, ao alopata, e às compras de roupas das quais não necessito. Conclui-se daí que tenho muitos agasalhos, e que a doença não se determina por falta de instrução, muito menos por determinações biológicas. A doença, senhores, veio de um ato. Que começou quando eu decidi que consideraria cada sombra de falta de consciência na minha cabecinha humana. A primeira etapa, então, começou pelo excesso: uma profusão de escuros, de reflexões que pareciam mais de pessoas que não eu, que odeio, uma abundância de jogos sentimentais que não respondiam à minha própria angústia e que eu procurava, eu errante. A segunda etapa veio pelo enorme ódio de conviver comigo. Ódio que era na maior parte das vezes preguiça (não credibilizem muito o texto, que ele é feito com as palavras, palavras que vêm de mim e que não são expressão de forma alguma, são excreção dessa vivência roxa, sequida, de formas fundamentais para a minha própria falência, e meu encontro com vestígios, rastros, esboços). Aí eu descobri, fitem bem, senhores, descobri que eu sou um Fulano. Um Fulano Cliclano de Tal. E que as letras maiúsculas não me servem porra nenhuma. A porra aliás sai do pênis, que não me serve de nada; pênis que aliás urina e deixa no vaso de louça branca a coloração do amarelo líquido e transparente. Eu sou uma urina. preciso de uma descarga há anos, desde que eu nasci e era muito saudável. A descarga não é ideológica, senhores. Me abstenho de comentários sobre heróis. Me abstenho também de qualquer tipo de consideração sobre o feminismo. A descarga é pequena e se faz com um dedo, num momento que não é especial. A coisa é imediata, mas não é aí que reside. feita a descarga, você não lava a mão. e se precisar chorar pode, e murmurar nojo, ou telefonar para o amigo. pode. Afinal você não tem nada com isso. Esse meu corpo; não é este meu corpo. Ele não sabe mais onde está. Às veses desiste. prestes a desistir. ele não sabe mais onde eu estou. eu não sei mais onde ele está. eu não sei mas onde ele está. ele não sabe mas onde eu estou ! Ai !!! Não é que esteja agindo certo, agora: isso jamais. a doença do ente, senhores, é sempre estar procurando (in)cansavelmente. procurando o certo
jeitinho de se safar
pronto para morrer
bem porque
a vida é
a possibilidade da morte
(e morrer é não mais
poder morrer)
doente doente doente
então eu fiz o que eu fiz. eu cometi um ato que parecia maldade. e a "vítima" realmente alega ter sido violentada. pelo menos não foi violência física.
jeitinho de se safar
pronto para morrer
bem porque
a vida é
a possibilidade da morte
(e morrer é não mais
poder morrer)
doente doente doente
então eu fiz o que eu fiz. eu cometi um ato que parecia maldade. e a "vítima" realmente alega ter sido violentada. pelo menos não foi violência física.